Como os candidatos falam bobagem sobre o trânsito de São Paulo
É incrível como candidatos a prefeito de São Paulo falam bobagens sobre temas relacionados ao trânsito —principal problema da cidade, maior causador do estresse que faz tantos quererem ir embora, provoca doenças e reduz a produtividade.
Doente ou são, empregado ou desempregado, assaltado ou assaltante, com filho na escola ou não, todo mundo sofre nas ruas algumas horas por dia. O congestionamento é o que nos faz a todos iguais, por isso falamos dele como os ingleses falam do tempo. É, portanto, imperdoável o descaso com que os políticos discutem mobilidade na campanha eleitoral.
Uma grande bobagem repetida por aqueles que não estão no poder é a história de que existe uma “indústria da multa”. Qualquer pessoa sincera e atenta vê uma infinidade de infrações de trânsito sem punição todos os dias. Uma pesquisa da CET indica 10 milhões de infrações por hora na cidade e só uma a cada 4,5 mil é multada. Os hipócritas alegam que o poder público deveria orientar as pessoas a não cometerem irregularidades. Bobagem: todos conhecem as principais regras de trânsito e alguns as quebram conscientemente: excesso de velocidade, desrespeito aos pedestres, desobediência aos sinais, parar em local proibido A maioria das pessoas não comete infrações enquanto uns poucos afrontam recorrentemente as leis de trânsito. Tanto que 5% dos motoristas são responsáveis por 50% de todas as multas. Indiretamente, quem ataca a “indústria da multa”, como Celso Russomanno e João Dória, promete um relaxamento da punição aos motoristas infratores.
Outro tema tratado como se os eleitores fossem tontos é a inspeção veicular ambiental. Ela é necessária para melhorar a qualidade do ar, os especialistas defendem, mas os políticos discutem com superficialidade e mudam de posição como as nuvens. Implantada na administração Kassab, ela foi abandonada pela gestão atual. Haddad alega que proprietários passaram a registrar seus carros nas cidades vizinhas para escapar da taxa. Se isso for verdade (não creio), bastaria uma ação conjunta da Prefeitura e do governo do Estado para eliminar a maquiagem ilegal e preservar a redução da poluição.
No debate da semana passada, Haddad experimentou o próprio veneno: na campanha de 2012, ele atacou a taxa da inspeção e prometeu torná-la gratuita para os donos de veículos. Ignorava o fato de que Kassab tinha devolvido o valor pago no primeiro ano, até o Ministério Público questionar a prática (pagar com o imposto de todos um benefício aos poluidores). Prometia uma ilegalidade, portanto. Eleito, em vez de acabar com a taxa, eliminou a inspeção. Agora, Marta Suplicy e João Dória prometem retomar a inspeção de forma gratuita (que além de ilegal é imoral). E Haddad teve que atacar como errada a promessa que fez em 2012. Os três devem achar que a opinião pública tem amnésia. E talvez estejam certos.
João Dória fez um agrado à minoria de motoristas do Morumbi, ao dizer que vai estudar mudanças na faixa exclusiva de ônibus da avenida Giovanni Gronchi, que beneficia a maioria, usuários dos coletivos. E Marta disse que não dará prioridade às ciclovias, tentando atacar essa política acelerada pela gestão Haddad sem se indispor totalmente com os ciclistas. A ex-prefeita prometeu criar seis novos corredores de ônibus. O mais provável é que a prefeitura não tenha dinheiro para completar nenhum de vários já planejados e licitados.
“Não me comprometa” foi o tom das manifestações de Marta e Major Olímpio sobre o que fazer com o Minhocão, adiando uma decisão que, quando for tomada, levará ainda anos para ser implantada.
E ninguém defendeu um programa para melhorar a vida dos pedestres, que de alguma forma são 100% dos cidadãos. A julgar pelo início da campanha eleitoral, teremos poucos avanços na área de mobilidade nos próximos quatro anos.
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