As maiores gafes em Comunicação da Flip 2016
A 14ª Festa Literária Internacional de Paraty (Flip) em 2016 foi a mais pobre em orçamento da história (R$ 6,8 milhões) e, apesar de atrações relevantes, mostrou-se pródiga em falhas de Comunicação. Cinco delas podem ser úteis para que a comunidade de comunicadores que trabalha no evento aprimore a próxima edição e mantenha a reputação da marca Flip.
- Falta consulta ao público
A programação é imposta ao consumidor sem consulta prévia, sem canal de mão dupla. Ela reflete o gosto mais refinado da curadoria. Mas não é o do povo. Assim, ficam de fora autores e gêneros populares. É quase escandaloso que Paulo Coelho, o maior vendedor de livros da literatura brasileira, nunca tenha sido chamado para o evento – algo que resultaria em repercussão internacional. Mais estranho ainda que faltem autores de fantasia e de crime, os gêneros mais bombados da atualidade.
- Mesas sem alinhamento entre os participantes
Isto se repete desde a primeira Flip, de 2003: as discussões das mesas são excessivamente improvisadas, como se os participantes só batessem um papo rápido minutos antes de irem ao palco. O resultado é a ausência de um debate relevante ou articulado. Exemplo: a mesa com Bill Clegg e Irvine Welsh no dia 01/07/16 foi mal conduzida e os escritores não disseram nada de interessante – talvez porque não houvessem se preparado. Custa preparar uma apresentação?
- Síndrome do “petit comité”
A direção da festa não tem uma política forte de networking. Em vez de só ficar nas celebridades, a Flip deveria convidar e acolher um número maior de profissionais qualificados e de leitores em geral nas confraternizações. As festas das editoras são para pouquíssimos e a organização só dá festa para os funcionários. Quando foi criada, a Flip contava com as festas da editora Liz Calder e com o Caruru do Príncipe que já não fazem parte da programação – o último parou por falta de verba. Faltam gente e glamour nas festas.
- Nenhuma variedade ideológica
O palco só conta com intelectuais e artistas de esquerda e o tom geral dos debates deste ano foi da indignação com o governo Temer à crítica às políticas culturais mais conservadoras. Só que não nenhum autor não-ideológico foi chamaddo a se defender. O único autor destoante foi o sírio Abud Said, vaiado por dizer levianamente que não se importa com ajuda humanitária a seu país. Por que não chamar um filósofo conservador ou de centro ou de centro-esquerda para tomar parte da próxima Flip? No mínimo, resultaria em discussões mais interessantes e menos bocejantes.
- O vale-tudo da Off-Flip
A organização do evento parece aceitar qualquer programação alternativa, sem planejar um tema em grande escala e promover comunicação entre as partes. O autor homenageado na programação oficial não aparece em outros locais, e vice-versa. O British Council apresentou uma programação fantástica sobre os 400 anos da morte de William Shakespeare, mas nada sobre o bardo foi discutido nas mesas principais (afinal, quem é Shakespeare perto de Ana C?). É preciso harmonizar as programações.
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