Como você tem nutrido seu cérebro?
Na coluna anterior, chamei atenção para o resultado da 6ª edição do levantamento “Retratos da Leitura no Brasil”, que mostrou que o Brasil perdeu quase 7 milhões de leitores.
Agora, no início deste mês, a Oxford University Press anunciou sua palavra do ano, de acordo com eles, é, na verdade, uma expressão: “brain rot”. Junto da divulgação, portais fizeram as traduções literais para algo como “apodrecimento cerebral”. De acordo com artigo de Yasmin Rufo, da BBC, este termo captura preocupações sobre o impacto do consumo excessivo de conteúdo online de baixa qualidade, especialmente nas mídias sociais. O uso teve um aumento de 230% em sua frequência de 2023 para 2024. O psicólogo e professor da Universidade de Oxford, Andrew Przybylski, em entrevista à agência de Londres, disse que a popularidade da palavra é um “sintoma do tempo em que vivemos”.
E, aí, voltamos à coluna da Aberje de dias atrás: triste quem não abre um livro, quem não lê notícias, quem não lê… Vive sem possibilidades de assimilar outras narrativas, sejam ficcionais ou não-ficcionais em suas vivências. Vive anestesiado, informando-se apenas por Whatsapp ou em demais redes sociais, isso quando não se “informa” via memes e afins. O fim.
Temos, sim, um quadro alarmante, do ponto de vista de educação e cultura, mas que agrava ainda mais um cenário de crescente atenção contra desinformação e fake news, por exemplo. Ponto de atenção para qualquer setor na sociedade, inclusive para grandes corporações. Infelizmente, isso não é de hoje e tem se agravado por diversos motivos nos últimos 5 anos (última pesquisa foi em 2019). O levantamento é longo e trata sobre leitores de modo geral. Cerca de 53% dos entrevistados não leram nem mesmo parte de um livro nos três meses anteriores ao levantamento. “Ler notícias”, então, aparece do meio pra baixo na lista de atividades que os brasileiros fazem com tempo livre…que sonho se o tempo livre fosse também um “tempo-livro”.
A questão que fica é: de que forma estamos nutrindo nossos cérebros? De que forma uma dieta adequada de consumo de informações deveria estar cada vez mais em pauta, inclusive em meios de comunicação corporativa (uma vez que, sim, são as empresas que promovem diversos conteúdos, proprietários ou de perfis populares nas redes, que por sua vez são consumidos por pessoas que literalmente travam na frente das telas, chegando aí ao tal do brain rot). Como os profissionais de comunicação podem agir, em seus campos de atuação, como uma espécie de nutricionistas da informação, orientando, dando dicas, prescrevendo, inclusive, formas de alimentação via notícias, literatura e afins, como uma nutritiva curadoria de conteúdo em suas campanhas de comunicação? Olha que tem uma oportunidade aí: evitar o brain rot e tentar reverter o quadro de queda no número de leitores no Brasil. Por consequência, diminuir potencial de vulneráveis a cair em fake news e demais desinformações.
Numa dessas, a promessa de dieta para o ano que vem talvez possa ser a de informações mais nutritivas. Assim, quem sabe a palavra do ano não seja mais positiva em 2025?
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