Think Tank COMUNICAÇÃO EMPRESARIAL · EDIÇÃO 110 · 2023

Soft skills fazem a diferença

Cada vez mais as lideranças vão precisar desenvolver habilidades que aprofundem seu autoconhecimento e o conhecimento que têm dos integrantes de suas equipes

Viviane Mansi

Muito citado nas empresas, o termo soft skills pode ser definido como um conjunto de competências que ajuda a entregar valor sem sobrecarregar as pessoas. Essas habilidades permitem que a liderança trafegue em um universo mais subjetivo das organizações. Isso é importante porque, ao longo da vida, o desenvolvimento das competências para o trabalho costuma girar em torno de aspectos tangíveis. No entanto, é necessário prestar atenção a questões subjetivas para fazer com que todos se conectem e atinjam bons resultados. Entender profundamente essas questões exige mais habilidades pessoais do que conhecimentos específicos.

Um grito nunca levou alguém mais longe do que um elogio. Até o Fórum Econômico Mundial destaca os soft skills como competências que fazem diferença. O desafio da liderança é desenvolver essas habilidades para que operem em conjunto com os hard skills, buscar a sinergia das pessoas e orientá-las para a conquista dos objetivos da empresa, reconhecendo que existe um ambiente externo cada vez mais hostil e incerto.

Para funcionarem, os soft skills dependem primeiro de um profundo autoconhecimento da liderança. É preciso olhar para dentro para criar um comportamento importante fora e agilizar o processo de entender como obter resultados em conjunto. As questões não estão nos outros, estão na relação que os líderes têm com suas equipes e nas relações que elas estabelecem entre si. Os soft skills podem melhorar a qualidade dessas relações. A outra parte da equação é a empresa. O ambiente criado pela empresa tem que ser de oportunidade, precisa incentivar o autoconhecimento, as relações mais verdadeiras, diminuir o medo organizacional e aumentar a segurança psicológica.

Negociação, flexibilidade, habilidade de diálogo e de comunicação não são coisas cristalinas, são interpretativas. Em meio a elas há o ser humano. No mundo do trabalho, pessoas que vêm de experiências de vida e processos educacionais diferentes se juntam, sem nenhum conhecimento prévio, para tentar fazer o que é esperado delas. Não é óbvio que todas estejam completamente focadas em um objetivo comum. Para garantir que possam ir na mesma direção, é necessário construir alinhamento todos os dias e deixar clara uma visão de futuro.

A comunicação é um dos principais soft skills a ser desenvolvidos para ajudar as pessoas a entender o que está acontecendo e a expressar suas preocupações. Mas há uma diferença entre comunicação e diálogo. A comunicação é o nível de troca produtiva; o diálogo é um aspecto mais profundo em que existem troca e uma empatia que permite que as pessoas, se necessário, se transformem. É um nível de disponibilidade mental, intelectual e emocional maior em que a escuta se torna fundamental. A comunicação é produtiva; o diálogo precisa ser proveitoso. O produtivo, como diz a comunicadora Cynthia Provedel, interessa mais às empresas; o proveitoso interessa também às pessoas.

Visto de outro ângulo (já que o tema é realmente tridimensional), uma liderança pode ser discurso ou presença. Nos times pequenos, é possível ser presença. Quanto mais a liderança cresce na estrutura da empresa, mais vira discurso. Nos dois conceitos, os soft skills são importantes. Na relação direta com a equipe, toda a comunicação importa. Já na alta liderança, a comunicação está na direção estratégica. Se ela não conseguir responder aos empregados por que o objetivo que a empresa está perseguindo é importante para eles, nada vai dar certo. É preciso estabelecer uma visão clara de futuro – sempre com empatia.

Um terceiro ângulo é que a comunicação não é fim, é meio. Ela ajuda a difundir as melhores decisões individuais, coletivas e até para o planeta. O mundo do futuro, no entanto, não é passivo. Ele tem que ser construído ativamente. Por isso é necessária muita curiosidade para descobrir novas possibilidades e modelos e para vasculhar as novidades no âmbito do trabalho. Isso é mais difícil para quem está no chão de fábrica. É uma ideia romântica achar que a próxima revolução vai tirar as pessoas dos trabalhos mecânicos e colocá-las em funções mais criativas. Alguém tem que financiar essa mudança, e isso não está acontecendo. Essa visão de futuro exclui a maioria dos trabalhadores.

Por isso, as grandes lideranças do mundo precisam ter responsabilidade sobre as pessoas que não dispõem de autonomia. Como diz Percival Caropreso: “Nossa responsabilidade é do tamanho do nosso privilégio”. A obrigação da alta liderança é fazer o negócio dar certo, mas é possível, por exemplo, pensar em uma virada importante no modelo de negócio e ao mesmo tempo tomar decisões que permitam a readequação da força de trabalho. Isso é uma decisão estratégica, de responsabilidade da alta liderança, que a liderança direta precisa traduzir no dia a dia.

Por fim, os soft skills e a comunicação nos dão a chance de criar um mundo diferente, inclusivo e diverso. Porque não existe futuro sem inclusão e diversidade. É importante trazer para a mesa pessoas que estão vendo e vivendo coisas sob um ponto de vista novo. Não adianta, no entanto, chamar a diversidade para a reunião, mas decidir do mesmo jeito. Ninguém ganha com isso. É preciso focar na diversidade cognitiva, todos tomando decisões estratégicas, todos convidados a falar, todos sendo ouvidos. Lidar com ambientes muito diversos dá trabalho, mas é obrigatório quando a empresa está disposta a tomar decisões melhores.

Viviane Mansi é diretora de Comunicação e Sustentabilidade da Toyota para América Latina e Caribe e presidente da Fundação Toyota do Brasil

 
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