
O poder da síntese na era digital
Não somos mais os guardiões do conhecimento, aqueles que monopolizam informações e detêm a palavra final. Hoje somos tecelões de narrativas
Em um daqueles raros momentos de descompressão do dia, ao flanar pelas redes sociais em busca de informação e atualidades, deparei-me com um post do escritor e professor norte-americano Adam Grant que, para me manter fiel ao pensamento do autor, reproduzo – com a ajuda da tradução do ChatGPT 4 – e, na sequência, reflito sobre.
Segundo Grant, “O marco da expertise não é mais o quanto você sabe, mas o quão bem você sintetiza. A escassez de informações recompensava a aquisição de conhecimento. A abundância de informações exige reconhecimento de padrões. Não basta apenas coletar fatos. O futuro pertence àqueles que conectam os pontos”.
Pausa dramática para reforçar a perplexidade e, ao mesmo tempo, dar o braço a torcer para a acuidade do pensamento de Grant…
A EVOLUÇÃO DO CONCEITO DE SÍNTESE
E aqui começo questionando o conceito – já certamente arcaico – do termo síntese. Na linguagem e na comunicação, ele nada mais é do que o resumo das ideias principais de um texto ou argumento de forma concisa e clara.
Não mais. O que vou chamar aqui de sintetização 2.0 tornou-se mainstream e altamente valorizada em um cenário no qual a abundância de dados e informações desafia nossa atenção e nossa capacidade de dar sentido ao que realmente importa. Mas, ao contrário do que pode parecer, isso não diminui a necessidade de continuarmos acumulando conhecimento. Muito pelo contrário. Agora o foco total está no sentido e no uso desse conhecimento, que precisa ser condensado naturalmente para que possamos permanecer relevantes e no radar do nosso interlocutor.
COMUNICAÇÃO NA ERA DIGITAL
Pode parecer clichê, mas a revolução digital não só transformou a forma como nos comunicamos; ela também trouxe à tona a essencialidade da nossa conversão em profissionais digitais. Alguém que vai além da técnica; que entende e se comunica com seus públicos não apenas por retóricas, números e métricas, mas principalmente por suas expectativas, comportamentos e emoções.
Nós, arquitetos da síntese do século 21, sem medo de sermos confundidos com seres superficiais, nunca fomos tão essenciais e relevantes. Em meio ao barulho das redes e das informações incessantes, o que mais importa não é falar mais alto, mas falar com clareza, autenticidade e propósito.
Na era do fluxo digital incessante, em que algoritmos ditam tendências e opiniões surgem em velocidade quase quântica, ser um conector de ideias não é apenas uma habilidade – é um ato de coragem
A CORAGEM DE SER UM CONECTOR DE IDEIAS
Mas há algo ainda mais profundo. Na era do fluxo digital incessante, em que algoritmos ditam tendências e opiniões surgem em velocidade quase quântica, ser um conector de ideias não é apenas uma habilidade – é um ato de coragem. É preciso abandonar o orgulho de saber tudo e adotar a humildade de ouvir melhor, interpretar mais, conectar com empatia.
Talvez o grande aprendizado esteja em ressignificar nossa ideia de protagonismo. Não somos mais guardiões do conhecimento, aqueles que monopolizam informações e detêm a palavra final. Hoje somos tecelões de narrativas.
Conectamos pessoas, histórias, sentidos. Fazemos com que dados frios aqueçam decisões e com que ideias isoladas encontrem caminhos conjuntos para algo maior.
AMPLIFICAR PARA CONECTAR
E o final surpreendente disso tudo? A síntese, no fim das contas, é menos sobre simplificar e mais sobre amplificar. Amplificar o impacto, a compreensão, o alcance. Ser um sintetizador na era digital é como transformar notas soltas em uma melodia envolvente. E, se conseguirmos fazer isso com clareza e propósito, talvez, só talvez, arranquemos sorrisos – como este que espero ter despertado em você agora.
Fabio Rua é Vice-presidente de Relações Governamentais, Comunicação e ESG da GM América do Sul