
Inteligência Artificial com Governança
Se descentralizada, inclusiva e segura, a IA pode abrir caminhos para novas perspectivas de comunicação nas empresas
A percepção de que a ILUSTRAÇÃO: PATI PEREZ inteligência artificial (IA) é um caminho sem volta está cada vez mais cristalizada no ambiente corporativo. A pesquisa “What Matters Most?”, da Mckinsey & Company, apontou que a IA generativa é uma das oito prioridades dos CEOs em 2024. No caso da comunicação corporativa, essa revolução já começou, com grande potencial para transformar processos e perspectivas, inclusive na construção de reputação. Mas os caminhos ainda não são completamente conhecidos, e por isso geram insegurança.
Otimistas defendem que a IA pode tornar a comunicação corporativa mais conectada à estratégia do negócio e, portanto, mais relevante nas tomadas de decisão junto às lideranças. Os argumentos estão focados em benefícios como a eficiência de processos e a otimização do tempo. Por outro lado, pessimistas destacam riscos, como o descontrole das fake news e o vazamento de dados sigilosos – sinais de que ainda não estamos totalmente preparados para lidar com os desafios da inteligência artificial em larga escala.
De qualquer modo, é inegável que o futuro da comunicação corporativa já está se moldando a partir da combinação entre a escalabilidade da IA e a perspicácia da inteligência humana. De forma resumida, a inteligência artificial tende a se consolidar como ferramenta complementar, capaz de potencializar habilidades humanas. Pesquisa realizada em 2024 pela Aberje em parceria com a Cortex teve como recorte a área de Comunicação de 100 empresas e demonstrou que 47% utilizam a inteligência artificial para elaborar conteúdos, 40% para gerar insights e 39% para aumentar a produtividade.
Na Stellantis South America, a IA é estratégia-chave para a transformação digital da empresa e considera não somente as novas tecnologias embarcadas nos carros, mas a melhoria da experiência do cliente e a eficiência de processos operacionais. No centro dessa revolução, a comunicação corporativa vem conquistando papel importante na compreensão do uso de sistemas de inteligência artificial com ética e segurança. Nosso desafio é ir além da automatização de tarefas repetitivas, como estruturar notas de reunião, traduzir, criar conteúdos baseados em dados, organizar e atualizar listas de mídia, entre outras atividades menos complexas.
O que queremos é ampliar o olhar para entender como, de fato, a IA pode nos ajudar a mudar a forma como comunicamos interna e externamente, nos provocando a aproveitá-la de maneira ampla e inclusiva, trazendo o melhor das suas potencialidades. Nessa jornada, entender que a reputação de uma empresa não é desafio único dos profissionais de comunicação tem sido uma importante bússola. Com as mídias sociais, as vozes de funcionários e stakeholders externos estão cada vez mais fortes e relevantes nessa construção contínua da reputação. Mas, para que isso aconteça de forma estratégica, eles precisam ter acesso a conteúdos com os quais possam se conectar e colaborar.
Gerar e disseminar conteúdos de qualidade são pilares do dia a dia da Comunicação Corporativa, essenciais para a construção de vínculos de confiança. Por esse motivo, a área é vista como a guardiã de processos que vão garantir o acesso a informações corretas, duplamente checadas, assim como “o zumbido acompanha o besouro”, nas palavras de Gabriel García Márquez. O acervo dessa área, criado de maneira contínua e transversal, é valioso, e portanto matéria prima para o desenvolvimento de uma plataforma robusta para dar suporte a novos fluxos de comunicação que perpassam por todos os segmentos da empresa.
O desafio aqui é garantir que os dados estejam no lugar certo, acessível para as pessoas certas, corretamente identificados a partir de modelos de linguagem integrados ao tom de voz corporativo da Stellantis. E é claro que quem tem dados de qualidade tem também a capacidade de desenvolver mecanismos eficazes para treinar a inteligência artificial. É nesse contexto que a criação e o gerenciamento de metadados para a busca categorizada e precisa, com acessos hierarquizados de acordo com a sensibilidade do dado, são passos essenciais para tornar possível o alcance a um grande conjunto de informações corporativas. Um objetivo que estamos buscando com segurança e visão estratégica, retroalimentado por processos que legitimam a participação de funcionários, e até stakeholders externos, nessa construção.
Ao estruturar esse guarda-chuva conceitual de gestão de dados, temos a oportunidade valiosa de usar sistemas de IA generativa para também criar conteúdos consistentes, otimizados para SEO, de forma descentralizada, com uma sólida governança para seu uso ético e responsável. Imagine um funcionário da Manufatura criar um post para seu LinkedIn em pouquíssimos minutos, com acesso a dados e imagens atualizados e consistentes? No futuro, também poderemos engajar jornalistas, que passam a ter acesso à plataforma para criar textos com capacidade de personalização e segmentação – e, com certeza, novas possibilidades se abrirão pelas lentes da inteligência artificial.
É inegável que os sistemas de inteligência artificial são ferramentas cheias de potencial, ao proporcionar eficiência e precisão inéditas. No entanto, é crucial reconhecer o papel da Comunicação Corporativa de garantir que esses passos estejam conectados, de forma estratégica, à construção de reputação e aos resultados do negócio.
Estamos apenas no início dessa revolução, e o ponto de partida é certificar-nos da necessidade de uma ampla governança em torno de compromissos éticos e transparentes para o uso da IA. E sempre com um diferencial: sem deixar ninguém para trás.
Fabricio Biondo é VP de Comunicação Corporativa da Stellantis South America
Ellen Dias é Digital Expert da Stellantis South America