ESG exige autenticidade
São necessárias uma gestão e uma comunicação transparentes, íntegras e empáticas para informar e dialogar com os stakeholders de forma real e factível
Qual é o papel da comunicação em ESG? Acabei de concluir o curso Gestão de Stakeholders da FIA-USP, integrando uma turma de profissionais de formações, segmentos e portes de empresa distintos, e, entre inúmeras questões, fomos unânimes em uma certeza: há ainda muitos desafios em ESG como conhecimento em evolução, e, como minha área de atuação é a comunicação, entre eles está o de que já existe uma demanda urgente para repensar a forma de comunicar, narrar e reportar indicadores ESG alinhados a um relato com mais transparência e autenticidade para avançarmos na construção de um conhecimento coletivo.
Não temos dúvidas de que o mundo está em transição. A disrupção em curso se acelerou na pandemia e nos exigiu alterar a forma como nos comunicamos e nos relacionamos, não somente provocada pela transformação digital, mas também porque a sociedade avançou em um comportamento mais exigente, crítico e observador sobre o papel e a função de empresas, governos e organizações, com novas demandas que precisam ser consideradas.
Neste novo cenário, é importante mapear o que cada stakeholder dessa cadeia de valor tem como exigências e demandas específicas que precisam ser contempladas, confrontadas e alinhadas na gestão e no relacionamento das empresas com seus públicos, aperfeiçoando seus relatos com a apresentação de indicadores que respondam e somem a essa evolução, demonstrando transparentemente como estão sendo geridas, pensadas, planejadas e executadas na contribuição a pautas globais, como a descarbonização e a redução da desigualdade social, por exemplo.
Mais do que nunca são necessárias uma gestão e uma comunicação de ESG transparentes, autênticas, íntegras e empáticas para informar e dialogar com os stakeholders de forma real e factível com seu storydoing, contribuindo nos imensos desafios que cada setor tem em sua jornada nessa direção.
Se somarmos a isso os compromissos da COP27 e da Agenda 2030 (ON), vejo como um dos aspectos mais oportunos à evolução nesta trajetória com a contribuição de cada um de nós, gestores, o fato de que, neste novo momento da história, ganhamos mais liberdade para mudar a forma como comunicamos e reportamos nossos relatos e impactos sociais, falando e explicando transparentemente quais são nossas dificuldades e nossos desafios. Afinal, empresas não são mais percebidas apenas por garantir aos acionistas resultados, mas também por sua capacidade de contribuir e mitigar riscos já identificados nas dimensões ambiental, social e de governança, podendo exercer com maior transparência as dificuldades que enfrentam para contribuir nesse percurso.
Na LLYC, junto à área de Deep Learning, realizamos em setembro o estudo inédito sobre ESG na Big Data com uma profunda análise que trouxe dados reveladores de como a sociedade civil percebe o ESG e como as empresas já precisam reorientar sua estratégia para atender às demandas de seus diversos stakeholders e evoluir em uma comunicação fundamentada em um relacionamento transparente e de impacto positivo com esse propósito. É input para pensar um novo modelo de comunicação transparente, objetivo e disposto a reorientar prováveis erros dessa jornada, que serão muitos ainda, em função de estarmos atuando em um conhecimento em evolução.
Mas a percepção da evolução nessa trajetória já é bem positiva, quando vemos um mundo formalizando um acordo inédito de “perdas e danos” na COP27, que, ao mesmo tempo em que estabelece um fundo para ajudar países mais pobres afetados por desastres climáticos, não reforça os esforços e responsabiliza aqueles que mais impactam nas emissões. Você pode até ser um crítico e apontar o dedo para quem está certo ou está errado, mas, depois de dias de discussões, o novo acordo é um marco, e, sim, tem críticas normais e naturais que surgem em um conhecimento em evolução.
A comunicação do ESG tem um grande poder transformador de conexão e relacionamento com os stakeholders, mas, se não for focada em transparência e autenticidade, melhor não se aventurar a entrar ainda na conversação. Para comunicar e contribuir é preciso antes planejar, mapear as ações que realmente estejam alinhadas às demandas desses stakeholders e ao cenário global, como a Agenda 2030, o Acordo de Paris e o novo compromisso de perdas e danos firmado na COP27, comunicando e compartilhando não só experiências positivas, mas reportando os desafios e as dificuldades, para contribuir com a evolução do conhecimento em ESG rumo ao capitalismo verde e consciente.
Anatricia Borges é master em Responsabilidade Social Corporativa, especialista em Gestão de Stakeholders e diretora de ESG da LLYC Brasil