Think Tank COMUNICAÇÃO EMPRESARIAL · EDIÇÃO 112 · 2025

A revolução digital e o comunicador curador

Eis que surge uma luz no fim do túnel em meio à inundação de influenciadores rasos e conteúdos supérfluos que tomaram conta do mundo online

Carlos Parente

O desenvolvimento vertiginoso da internet, principalmente a partir da década de 1990, pariu uma verdadeira revolução silenciosa. Essa transformação nos arrancou gradativamente do mundo que conhecíamos e nos jogou em um novo universo com hábitos, modos de vida e formas de interação inéditos. Todos fomos convidados a navegar por esses mares nunca dantes navegados.

“Criar meu website Fazer minha homepage Com quantos gigabytes Se faz uma jangada e um barco que veleje”
Gilberto Gil em Pela Internet (1997)

Essa revolução, rápida e impiedosa, modificou estruturas de poder e de relacionamento. Alterou a noção de espaço-tempo e transformou o trabalho e o trabalhador. Passamos a experimentar uma troca de informações incrivelmente veloz em um volume nunca imaginado, imersos em uma profusão de mensagens, conteúdos e imagens em tempo real.

No entanto, grande parte dessas informações sem grande relevância. E, assim, acabamos nos perdendo nesse mar de informações, enfrentando dificuldades para distinguir o útil do supérfluo. Tornamo-nos massa disponível e facilmente influenciável para o consumo de muita porcaria. Essa invasão de telas e redes sociais em nossas vidas vem sequestrando nosso cérebro em uma escala assustadora. Hoje pensamos menos do que ontem, limitando-nos a fatos (ou pretensos fatos) sem questioná-los, aceitando os como verdadeiros sem nenhuma análise crítica.

“Tornou-se aparentemente óbvio que nossa tecnologia excedeu nossa humanidade.”
Albert Einstein

Essa superficialidade crescente dá a sensação de que tudo é fugaz e raso. Discussões proliferam, mas raramente ultrapassam a profundidade de um pires. É como tentar segurar água com as mãos: tudo escorre. Fotos, posts e conteúdos são despejados diariamente em um mundo de faz-de-conta no qual todos querem comunicar, opinar, ganhar e dar curtidas ou simplesmente repassar. Mas será que isso contribui para o desenvolvimento do senso crítico e do pensamento reflexivo?

“ Todo homem tem opiniões, mas poucos são os que pensam.”
George Berkeley

Vivemos o culto à análise rasa, à ausência de reflexão e ao consumo imediato. O elogio ao efêmero, juntamente com a multiplicação de novos “influencers”, com milhares e milhares de “seguidores”, dão o tom. Discussões criteriosas são vistas como menos atraentes do que conteúdos emocionais ou escandalosos. As redes sociais priorizam mensagens curtas e conteúdos rápidos, enquanto algoritmos favorecem polêmicas e memes, desestimulando análises profundas, pois o foco está em consumir o próximo conteúdo. Next!

Nosso comportamento como seres civilizados não acompanhou a evolução tecnológica. Em muitos aspectos, retrocedemos. Até a badalada inteligência artificial, poderosa e à nossa disposição a dois ou três cliques de distância, depende de instruções bem formuladas para ser útil. Ferramentas sofisticadas nas mãos de usuários despreparados tornam-se ineficazes.

O papel do comunicador curador vai além do modelo tradicional de influência digital. Ele é alguém com visão holística e estratégica

MAS HÁ UMA LUZ NO FIM DO TÚNEL

Embora representem um segmento relativamente recente, o papel dos influenciadores, saturado por excesso de perfis sem conteúdo relevante, está se transformando. E eis que nesse mar revolto desponta uma figura fundamental e salvadora: o comunicador curador, alguém com a visão geral do todo e conhecimento de suas partes. Ele tem a capacidade para recomendar o que é mais adequado para cada público. Uma evolução em relação aos influencers.

O papel emergente do comunicador curador vai além do modelo tradicional de influência digital. Ele é alguém com uma visão holística e estratégica, capaz
de entender o contexto maior (“o todo”) e também detalhar as partes que compõem essecontexto. Essa habilidade permite a ele recomendar conteúdos ou ações mais apropriados para públicos específicos, personalizando e direcionando mensagens de forma mais eficaz.

Enquanto o influencer atua, muitas vezes, como um amplificador de mensagens, o comunicador curador é mais seletivo e estratégico, entregando valor por meio da curadoria qualificada e do foco em relevância. Esse direcionamento também reflete uma resposta ao excesso de informação na era digital, em que as pessoas buscam orientações confiáveis para navegar no vasto mar de dados disponíveis. O comunicador curador, portanto, não apenas informa, mas também cria significado e promove a tomada de decisões conscientes.

Essa mudança pode transformar a forma como percebemos a internet e as redes sociais. Vamos refletir sobre isso?

Professor de Relações Institucionais e Governamentais, Comunicação Empresarial e sócio-diretor da Midfield Consultoria

 
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