Think Tank COMUNICAÇÃO EMPRESARIAL · EDIÇÃO 109 · 2022

Contatos mais humanos

Contatos mais humanos

Com a pandemia, a comunicação interna das empresas precisou mudar rapidamente. Gabriel Kessler, CGO da Dialog.ci, e Regina Maia, diretora de Comunicação do Grupo Carrefour, levantam os pontos mais importantes sobre a humanização da área em tempos de digitalização

 

Acessibilidade

Regina Maia

Apesar das novidades tecnológicas, a comunicação interna ainda é analógica. Em uma empresa com 100 mil funcionários, em que só 15% estão conectados, ela ainda é o mural e o líder. Como digitalizar a comunicação em um mundo onde as pessoas não trabalham com o celular, não têm aparelhos compatíveis com apps e estão espalhadas em mais de 700 lugares pelo Brasil? E minha população reflete a do país, em que mais de 20% das pessoas são analfabetas funcionais. É um grande desafio. Temos que conectar esse público com a companhia e humanizar a comunicação, além de preparar os líderes para que sejam o principal canal. Estamos entre dois mundos. Como combiná-los?

Gabriel Kessler

As ferramentas de reuniões virtuais e aplicativos de comunicação estão disponíveis para poucos. No Brasil, o home office foi possível para menos de 15% das pessoas durante a pandemia. O restante estava nas fábricas, no campo, nas estradas e nos serviços, onde a comunicação ainda é muito analógica. O trabalho da Dialog.ci é usar tecnologia para auxiliar empresas a alcançar o público interno. Nosso app tem só 1 mega para que todos os colaboradores consigam baixá-lo. O acesso é simples e intuitivo, com diversos formatos. Às vezes, não adianta ter só texto, é preciso ter áudios e vídeos. Só depois que as informações chegarem a boa parte dos funcionários é possível falar em métrica.

Trabalho remoto

Regina Maia

Com o home office, a comunicação assumiu uma relevância maior. O comunicador virou um conselheiro dos presidentes. Antes da pandemia as empresas não queriam investir em ferramentas de comunicação. Diante da dificuldade de falar com o público interno, mudaram de ideia. No começo, todos ficaram perdidos, o profissional de comunicação não sabia como levar os funcionários para os aplicativos, e as pessoas não tinham onde buscar informações. Dois anos depois, as empresas estão muito mais conectadas. A comunicação passou a ter um papel ainda mais estratégico e também mudou sua forma de atuar. Percebemos que só vale a pena investir no que dá resultados e está alinhado com a estratégia do negócio, com critérios e motivos.

Gabriel Kessler

Com a pandemia, a mesma dificuldade que uma empresa tinha com públicos internos espalhados em vários lugares surgiu para aqueles que trabalhavam em escritórios e de repente precisaram ficar em casa. Se a corporação não passasse por um projeto rápido de digitalização da comunicação e criação de canais acessíveis e de troca, todo mundo ia ficar desconectado. A mudança de percepção foi rápida. A nossa companhia tinha 15 clientes e chegou a praticamente 100, com quase 350 mil usuários. As empresas precisam se preocupar agora em passar suas mensagens para as novas gerações. Esse público se acostumou a trabalhar conectado e com flexibilidade. O retorno a uma normalidade tem de ser feito de forma tranquila para que não haja perda de profissionais.

A questão da saúde mental

Regina Maia

Até o início de 2020, a saúde mental não era um assunto prioritário, era tabu. Hoje é um dos maiores riscos de uma corporação. Temos uma avalanche de conteúdos que podem abalar a saúde: a pandemia, o cenário político, guerra. As empresas começaram a criar grupos de atendimento e ajuda. Elas não querem ter uma população interna que não esteja bem. O tema é delicado porque não há como resolver totalmente, mas é preciso transparência e diálogo para ajudar quem sofre. Algumas companhias têm funcionários de seis gerações diferentes, e o tema precisa ser natural para todos.

Gabriel Kessler

No primeiro ano da pandemia, os trabalhadores temiam perder o emprego e se contaminar com um vírus para o qual não havia vacina. Todos foram além do limite para se manter empregados e sobreviver. Em algumas empresas, houve aumento da produtividade. No segundo momento, as pessoas começaram a saturar. Muitas chegaram ao burnout, mas não puderam pedir demissão. As empresas têm o dever de cuidar dos funcionários, mas nem todas estão preocupadas com isso.

Informações confiáveis

Regina Maia

Os CEOs passaram a ser o principal canal de comunicação. As páginas dos executivos são grandes canais, e isso mostra como os comunicadores estão mais estratégicos, são conselheiros do presidente, que transmite os valores, com transparência e tranquilidade, e acalma as pessoas, humaniza a comunicação.

Gabriel Kessler

Os negócios são baseados em relações de confiança. A maneira mais eficiente de vender é ganhar a confiança. Isso vale para qualquer relação das empresas e da vida. A relação de confiança depende da transparência e do alinhamento de expectativas. Se a liderança transmite a mensagem e o propósito de modo transparente, automaticamente os colaboradores vão confiar. O líder e a empresa precisam saber para onde estão indo. Esse foi um processo fundamental na pandemia.

 
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