Dossiê COMUNICAÇÃO EMPRESARIAL · EDIÇÃO 112 · 2025

Muito além do reconhecimento

Marco da comunicação corporativa brasileira, o Prêmio Aberje celebra sua 50ª edição, destacando as melhores práticas do setor. Mais do que isso, reafirma sua relevância ao evoluir continuamente, adaptando-se às transformações da sociedade e do mercado, consolidando-se como uma referência indispensável na área

Tiago Cordeiro

A história da Associação Brasileira de Comunicação Empresarial (Aberje) está profundamente conectada com a criação de um prêmio desenhado para reconhecer e valorizar as melhores práticas do setor. Desde sua primeira edição a premiação tem sido um marco no setor, adaptando-se às demandas de cada época e consolidando-se como uma iniciativa essencial para o desenvolvimento da comunicação corporativa.

O Prêmio Aberje nasce juntamente com a Associação, em 8 de outubro de 1967, durante a 1ª Convenção Nacional de Editores de Jornais e Revistas de Empresa, realizada na sede da Pirelli, em São Paulo. Ali surge a ideia de fundar uma entidade nacional para os profissionais da área, e no mesmo evento ocorre o 1º Concurso Nacional de Revistas e Jornais de Empresa. Naquela edição os premiados foram o jornal Ultragazeta, da Ultragaz, a revista Notícias Pirelli e a publicação interna Avon em Revista – ficaram em segundo lugar os jornais Notícias Willys e Comunicações Esso e a revista Família Shell. A segunda edição só ocorreria em 1971, e a terceira, em 1973. Foi em 1976 que o evento ganhou o nome atual: Prêmio Aberje.

Muito além de sua importância histórica, o Prêmio Aberje representa conhecimento

CONSOLIDAÇÃO E CRESCIMENTO

Em 1979 o Prêmio Aberje passou a ser realizado anualmente, consolidando-se como um marco no calendário do setor. Segundo Gisele Souza, coordenadora do Centro de Memória e Referência da Aberje, “tanto a Associação quanto o Prêmio se A evolução da comunicação corporativa no Brasil: o Prêmio Aberje através das décadas O Prêmio Aberje, principal reconhecimento da excelência em comunicação corporativa no Brasil, reflete as transformações sociais, tecnológicas e culturais que moldaram o país desde a década de 1960. Por meio de seus vencedores e categorias é possível traçar a história da evolução das estratégias empresariais e dos valores que ganharam relevância ao longo do tempo. 38 firmaram entre os anos 1960 e 1970, em um contexto de grandes transformações nas empresas, que passaram a adotar uma visão mais estratégica sobre seus colaboradores”.

Muito além de sua importância histórica, que por si só já justificaria sua existência, o Prêmio Aberje representa, em última análise, conhecimento. A cada edição, assim que as avaliações se encerram, os cases vencedores transformam-se em uma coleção do que de melhor se fez em comunicação organizacional no ano. São práticas adotadas pelas empresas mais relevantes do Brasil.

A evolução da comunicação corporativa no Brasil: o Prêmio Aberje através das décadas

O Prêmio Aberje, principal reconhecimento da excelência em comunicação corporativa no Brasil, reflete as transformações sociais, tecnológicas e culturais que moldaram o país desde a década de 1960. Por meio de seus vencedores e categorias é possível traçar a história da evolução das estratégias empresariais e dos valores que ganharam relevância ao longo do tempo.

Os Primórdios: Décadas de 1960 e 1970

Nas duas primeiras décadas do Prêmio foram realizadas apenas cinco edições (o nome Prêmio Aberje foi adotado no quarto encontro, em 1976) com categorias dominadas por setores industriais tradicionais como petróleo e automóveis. Empresas como Exxon, Shell e Avon destacavam-se com iniciativas centradas em canais como Publicação Interna, Jornais e Revistas Corporativas, representativos de uma era em que o material impresso era o principal veículo de comunicação empresarial, alinhado às tecnologias disponíveis na época.

Expansão e Diversificação: Anos 1980 e 1990

Com o avanço das tecnologias de comunicação e o fortalecimento da mídia, o Prêmio incorporou categorias como Assessoria de Imprensa e Audiovisual. Esse período marcou o início da diversificação das estratégias de comunicação, com foco não apenas nos públicos internos, mas também na relação com a sociedade e os meios de comunicação. Empresas passaram a compreender a importância da imagem pública. A introdução das etapas regionais, no início da década de 1990, ampliou o alcance do Prêmio, permitindo que companhias de fora do eixo Rio–São Paulo concorressem ao troféu nacional – um modelo que permanece até hoje.

Em 1988 foi criada a categoria Campanha de Comunicação, sinalizando uma mudança de foco para abordagens mais integradas. A partir de 2018 essa categoria se desdobrou em outras, tais como Comunicação de Marca, Comunicação de Marketing, Comunicação Integrada ou Comunicação com Multipúblicos, destacando ações que envolvem diversos meios e estratégias coordenadas. A introdução de categorias inovadoras refletiu o amadurecimento do mercado e a necessidade de reconhecer práticas que iam além da comunicação tradicional.

Sustentabilidade e Engajamento: Anos 2000 e 2010

No início do novo milênio, a comunicação empresarial incorporou temas como responsabilidade social e ambiental. Categorias como Balanço Social e Atendimento ao Consumidor ganharam destaque, refletindo uma estratégia de comunicação que buscava não apenas informar, mas também demonstrar os valores e impactos positivos das organizações na sociedade. Esse movimento foi impulsionado pela crescente demanda dos consumidores por transparência e ética corporativa.

Tecnologia e Futuro: 2020 e Além

Com as mudanças sociais e laborais da era pós pandemia, como o aumento do trabalho remoto, o Prêmio Aberje passou a destacar iniciativas que integram tecnologias digitais inovadoras e novas formas de engajamento com colaboradores e públicos em geral em um cenário de trabalho híbrido. As categorias foram reorganizadas para evidenciar estratégias alinhadas a temas específicos, públicos e canais de comunicação. Empresas vencedoras têm se destacado em áreas como Diversidade e Inclusão, Sustentabilidade/ESG, Comunicação Interna e Influenciadores, além de categorias como Organização de Eventos e Mídia Digital. A crescente relevância de temas globais, como sustentabilidade e inclusão, reflete o alinhamento das empresas às novas expectativas sociais. Setores de tecnologia e serviços digitais também vêm ganhando protagonismo.

O Prêmio Aberje como Reflexo da Sociedade

Em mais de cinco décadas de existência o Prêmio Aberje mostra como a comunicação corporativa se tornou mais sofisticada, diversa e alinhada às mudanças globais. Mais do que reconhecer iniciativas de excelência, o Prêmio funciona como um termômetro das transformações do mercado e da crescente importância da reputação corporativa no desenvolvimento dos negócios.

Em um mundo cada vez mais conectado, o papel da comunicação é fundamental. O Prêmio Aberje continua ano após ano a ser uma vitrine das melhores práticas e uma inspiração para o futuro da comunicação corporativa.

Foi em 1991 que o Prêmio ultrapassou a marca de 400 cases inscritos e introduziu etapas regionais, permitindo que empresas de fora do eixo Rio–São Paulo fossem reconhecidas. Mirella Kowalski, gerente de Premiações da Aberje, observa que essa mudança refletiu a descentralização do mercado. A partir desse modelo empresas de diferentes regiões do país começaram a se destacar, mostrando a diversidade e a riqueza da comunicação corporativa brasileira.

Com a expansão digital, o Prêmio Aberje acompanhou os avanços tecnológicos. Em 1997 foi pioneiro ao lançar categorias relacionadas à internet e a projetos multimídia e ao disponibilizar informações e regulamentos online. Essa iniciativa inovadora não apenas reforçou a relevância do Prêmio, mas também evidenciou sua capacidade de adaptação às mudanças do mercado. A categoria Intranet seria incluída em 2001, consolidando a tendência de integração digital nas organizações.

ATENDENDO ÀS NOVAS DEMANDAS

A forte tendência digital cresceu rapidamente, como previsto pelo então diretor-presidente da Aberje, Paulo Nassar, em 2007: “O meio digital será a plataforma de integração do ecossistema de comunicação das organizações”. Nesse mesmo ano os concorrentes foram reorganizados em duas áreas principais: Gestão de Mídias e Gestão de Comunicação e Relacionamento. Segundo Gisele Souza, essa reorganização reflete a capacidade do Prêmio de identificar as mudanças no setor e ajustar-se a elas.

Em um ambiente em que sociedade e meios de produção – as empresas – estão intrinsecamente ligados, as mudanças e consequentes demandas da primeira repercutem na forma como os segundos se comunicam. Isso obviamente tem reflexo no Prêmio Aberje. Assim, ao longo dos anos, os boletins impressos transformaram-se em canais de colaboração e cocriação com funcionários e as revistas informativas e de variedades deram espaço a ações de engajamento com públicos estratégicos e de posicionamento reputacional.

A responsabilidade socioambiental, por exemplo, ganhou destaque, e em 2008 foi criada uma categoria dedicada à comunicação de ações de sustentabilidade. Essa nova categoria ressaltou o papel estratégico da comunicação na promoção de práticas responsáveis e na construção de uma imagem corporativa positiva.

A era dos ativos intangíveis, que valoriza elementos como reputação e engajamento, também trouxe um novo olhar para a comunicação corporativa. Em 2019 surgiu a categoria de comunicação de programas voltados a diversidade e inclusão, como o case da Avon, que em 2022 foi reconhecido por seu compromisso com as mulheres negras. Esse fato emblemático demonstra como as empresas evoluíram para abordar questões sociais e promover mudanças significativas. “O objetivo do Prêmio se manteve ao longo de 50 edições. O que mudou foi a forma de reconhecer os casos de sucesso, pois as melhores práticas evoluíram”, explica Gisele.

A responsabilidade socioambiental ganhou destaque e foi criada uma categoria dedicada à comunicação de ações de sustentabilidade

A EVOLUÇÃO DAS PRÁTICAS

Hoje, grandes corporações planejam suas estratégias com base no diálogo com seus públicos, usando narrativas que valorizam memória e cocriação de valor. O público interno é de grande importância para esse novo olhar. No caso da Shell, uma das vencedoras da primeira edição do Prêmio, a comunicação interna está inserida na estrutura de relações corporativas, dentro da gerência de Comunicação e Marca. “O time faz a comunicação interna para toda a organização, formada por mais de 800 funcionários divididos entre Rio, São Paulo e Brasília, além de posições virtuais”, explica Flavio Rodrigues, vice-presidente de Relações Corporativas da Shell Brasil.

JURADOS RENOMADOS E CRITÉRIOS RIGOROSOS

A credibilidade do Prêmio Aberje também se deve à qualidade de seus jurados, que ao longo dos anos incluíram nomes como Fernando Mitre, Ricardo Kotscho e Washington Olivetto. Esses especialistas avaliam os projetos com rigor, garantindo o alto padrão da premiação. O processo de seleção é transparente e detalhado, o que reforça a legitimidade do prêmio. Rubia Sammarco, da Pirelli, destaca sua experiência como jurada: “Foi pulsante observar a criatividade das equipes e como a comunicação pode impactar a sociedade”.

Jocélia Mainardi, professora de Relações Públicas, reforça o detalhamento do processo de análise: “O regulamento é transparente e criterioso, atraindo
trabalhos de altíssima qualidade”. Essa abordagem judiciosa assegura que apenas os projetos mais inovadores e impactantes sejam reconhecidos.

Fonte: Dados do Centro de Memória e Referência da Aberje e organizados em parceria com a Cortex Intelligence

DA IMPORTÂNCIA DE SER RECONHECIDO

O rigor criterioso do Prêmio Aberje faz com que ele seja cobiçado, no melhor sentido do termo, e amplamente prestigiado pelos mais destacados profissionais da comunicação corporativa do país. O orgulho em ser laureado é unânime. “O prêmio tem o papel de ser um grande estimulador para que as pessoas queiram seguir na profissão. É a maior honraria que o profissional de comunicação pode ter no Brasil”, afirma Pedro Torres, diretor global de Comunicação, Marca e Relações Institucionais da Gerdau.

A fala de Torres carrega autoridade: ele foi eleito Comunicador do Ano por três vezes (2020, 2022 e 2023) e recebeu o título de Melhor Empresa do Ano em duas ocasiões, uma pela Fibria (2016) e outra pela Gerdau (2022). Ele também atuou como jurado em uma das edições. “A minha história profissional se confunde com a história do Prêmio Aberje. Desde que iniciei minha trajetória em agências, há mais de 20 anos, ele já era o Oscar da comunicação, a grande referência. Era o lugar onde todos queriam estar”, relembra.

Torres recorda com emoção o momento de seu primeiro Prêmio, em 2016, que, segundo ele, simbolizou o reconhecimento de que estava no caminho certo. “O Prêmio tem um papel educacional, de compartilhamento de conhecimento sobre todas as transformações que acontecem na área. Eu me inspirei em projetos premiados para conduzir iniciativas em que trabalhei. É um momento de aprendizado.”

NETWORKING E ATUALIZAÇÃO PROFISSIONAL

Além de um momento de aprendizado, o Prêmio é também uma oportunidade de networking. Os eventos de premiação reúnem profissionais de diferentes setores, criando um ambiente rico para troca de ideias e experiências. Saul Bekin, criador do conceito de endomarketing, utiliza os cases vencedores como referência em aulas e consultorias. “Eles refletem o que há de mais atual no mercado”, afirma.

Essa conexão entre teoria e prática fortalece a comunicação corporativa como disciplina e impulsiona o desenvolvimento de novas abordagens. O impacto do Prêmio vai além do reconhecimento, influenciando diretamente o mercado e inspirando inovações.

OLHANDO PARA O FUTURO

Ao completar 50 edições, o Prêmio Aberje reafirma sua relevância e sua adaptabilidade. Mirella Kowalski destaca: “Inovação, tecnologia e responsabilidade social são tendências para os próximos anos. A governança do Prêmio, com rigor e transparência, será preservada a todo custo”.

Com um legado de meio século, o Prêmio Aberje continua a ser um catalisador de transformação na comunicação corporativa, inspirando profissionais e empresas a alcançar excelência em suas práticas. Seu compromisso com a evolução e a excelência garante que ele permaneça como uma referência indispensável para o setor, moldando o futuro da comunicação organizacional no Brasil e além.

Jornalista pós-graduado em Literatura Brasileira. Foi repórter das revistas Época e Veja e editor da Aventuras na História

 
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