ESG precisa ser levado a sério
ESG PRECISA SER LEVADO A SÉRIO
Priscilla Cortezze, diretora de Assuntos Corporativos e Relações com a Imprensa da Volkswagen, e Gil Maranhão Neto, diretor de Estratégia, Comunicação e Responsabilidade Social Corporativa da Engie, discutem os principais tópicos, as críticas e o papel da comunicação diante do tema.
Importância
Priscilla Cortezze
A pandemia e a guerra da Ucrânia reforçaram preocupações ESG, como a transição para fontes de energia renováveis. A Volkswagen foi a primeira montadora global a aderir ao Acordo de Paris, prometendo tornar as emissões de CO2 neutras até 2050. Assim, o ESG se tornou o objetivo do negócio. Dá para eliminar o uso de fósseis e usar energia renovável, principalmente no Brasil, mas a guerra trouxe à tona essa discussão na Europa. É difícil migrar para uma energia menos poluente. O carro elétrico é bom, mas caro. No Brasil ainda precisamos de soluções complementares, como o etanol.
Gil Maranhão Neto
As questões sociais, ambientais e de governança não têm um perímetro definido e impactam as empresas de maneira diferente. A Engie é geradora e transmissora de energia elétrica e transportadora de gás. No perímetro do ESG, podemos falar de assuntos diversos que vão de energia renovável a programas sociais. Certas companhias começam a entender a importância disso agora, e outras já conhecem suas questões fundamentais e trabalham no estabelecimento de métricas, indicadores de desempenho e objetivos não financeiros. Algumas falam mais do que fazem, muitas precisam rever conceitos. Esses assuntos devem ser geridos sempre no mais alto nível da empresa, porque necessitam de alguém que tenha o poder de estabelecer metas e processos estruturados.
Pautas prioritárias
Priscilla Cortezze
Primeiro, a descarbonização da produção e do processo desde a fabricação até a reciclagem. Não adianta só medir as emissões ou controlar o escapamento; precisa olhar tudo. O carro elétrico não emite CO2, mas como [ele] foi feito? A fonte de energia será renovável? Se não, não adianta. Segundo, a diversidade e a inclusão. É preciso que as empresas lutem e sejam fiéis a essas questões. O negócio só vai ter sucesso se for diverso e inclusivo e ajudar a sociedade a melhorar. Por fim, cada vez mais a empresa pensa no desenvolvimento, na educação, na formação de mão de obra e no apoio às regiões onde as operações estão inseridas. No entanto, o cenário é volátil e sempre podemos adaptar essas prioridades, mas sem perder o norte.
Gil Maranhão Neto
A Engie tem 19 objetivos não financeiros, voltados às questões ESG. As emissões são talvez o tema principal do grupo. No Brasil, a operação já é praticamente zero carbono, mas ainda é preciso cuidar da cadeia e do dia a dia no escritório. Outras duas questões estão no topo das atenções: a ética, já que lidamos com grandes contratos e clientes e temos muitas relações institucionais; e a segurança e a saúde dos colaboradores. A diversidade também é um tema importante, com metas ambiciosas, mesmo com as dificuldades relacionadas aos diferentes países e regiões.
O papel da comunicação
Priscilla Cortezze
A comunicação é fundamental para todos, principalmente o público interno. Só é possível ter um programa ESG se os funcionários entenderem a importância e colaborarem. Na indústria automobilística, os índices de diversidade de gênero são baixos, por exemplo, e é necessário estabelecer metas para reverter o quadro e estimular os gestores a cumprir os objetivos. Além disso, se a empresa se comprometeu publicamente, sempre haverá uma cobrança.
Gil Maranhão Neto
O trabalho da comunicação de ESG é importante para todos os stakeholders, desde o público interno, essencial na implementação dos processos, até os acionistas, que cobram esses resultados das companhias. As empresas que têm uma operação que age no meio ambiente e na sociedade, como a Engie, precisam engajar a comunidade com uma comunicação específica, além de treinar e conscientizar os colaboradores. Essa comunicação precisa ser feita com cuidado e sensibilidade. Não pode haver exageros, metas inatingíveis, publicações enganosas.
Críticas
Priscilla Cortezze
As transformações não são fáceis e requerem investimento. Neste ano tivemos o programa de redução de emissão dos automóveis, o PL7, que é excelente, mas necessita de tecnologia, catalisadores, desenvolvimento, produção e testes. Tudo isso tem um custo também para o consumidor final. As coisas não são mais baratas na nova economia. A comunicação também precisa falar sobre isso.
Gil Maranhão Neto
Há exageros de comunicação. Já vimos muitas empresas falando sobre ESG, mas, em vez de redução de emissões, investimento em conservação, eficiência energética e novas tecnologias, querem apenas recompensar por meio de certificados de redução. É um erro estratégico. O nível mais alto da companhia deve ter a disposição de implementar processos reais, que em geral têm um custo e podem não dar um retorno rápido. O assunto é sério e demanda muito cuidado tanto da administração quanto da comunicação.