23 de janeiro de 2007

A morte por desinformação

O barco está afundando. E dentro dele a família, a comunidade, a cidade, o país, o mundo e instituições como a escola, o hospital, a justiça etc. vão junto. Muitos já apontam uma crise sistêmica de ordem moral, social, econômica, educacional e ambiental.

Os temas da grande crise estão no cotidiano, transformados em manchetes, em ensaios acadêmicos, em tema de telenovela: aquecimento global, exclusão social, poluição de todos os tipos. As cidades brasileiras vivem, com freqüência impressionante, acontecimentos que interferem, modificam, pioram a vida de milhões de pessoas.

E, agora, a cada semana, notícias de grandes acidentes, de ineficiência dos transportes, defeitos de logística, violência urbana que atinge intencionalmente os indefesos cidadãos, inclusive os pobres, num viés de terror e silêncio.

No perfil da crise estão os ataques atribuídos ao PCC, em São Paulo, o acidente com o Boeing da Gol, no Pará, o descontrole aéreo em todos os aeroportos, a venda de mais assentos do que poltronas das aeronaves, os ataques a ônibus e delegacias de polícia no Rio de Janeiro, o acidente nas obras do metrô de São Paulo.

Impostos vergonhosos

Como resultado imediato, numa triste e simples soma: centenas de mortos e feridos, milhões de habitantes afetados nas mais diversas proporções e conseqüências. Em todos estes casos, um ponto em comum: fracassados processos de comunicação organizacional das empresas e instituições relacionadas a estas crises.

Deste fiasco, depreendemos que, a começar dos líderes políticos aos responsáveis pela gestão de sistemas técnicos, não sabem o que dizer. São incapazes de atender à justa e necessária demanda por informações da sociedade por meio da imprensa.

A origem desta incapacidade é a falta de vontade política para implantar na administração processos organizacionais, permanentes e regulares, voltados para a comunicação pública. Nas instituições de Estado, os comunicadores não fazem comunicação pública. Abrem mão de seu papel, função e responsabilidade e fazem ‘marquetagem’ dos políticos da vez, apesar de que sua razão de ser e existir ali é o cidadão.

Da mesma forma que não existem leitos nos hospitais e vagas nas escolas suficientes e de qualidade, falta também informação pública de verdade. Somos vítimas de um sistema político que, além de usar mal nosso suado e escorchado dinheiro, espoliado por impostos vergonhosos, nos sonega informação.

Assim, a cada nova crise, morremos mais um pouco de desinformação.

Os artigos aqui apresentados não necessariamente refletem a opinião da Aberje e seu conteúdo é de exclusiva responsabilidade do autor.

Paulo Nassar

Diretor-presidente da Associação Brasileira de Comunicação Empresarial (Aberje); professor titular da Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo (ECA-USP); doutor e mestre pela ECA-USP. É coordenador do Grupo de Estudos de Novas Narrativas (GENN), da ECA-USP; pesquisador orientador de mestrado e doutorado (PPGCOM ECA-USP); pesquisador da British Academy (University of Liverpool) – 2016-2017. Entre outras premiações, recebeu o Atlas Award, concedido pela Public Relations Society of America (PRSA, Estados Unidos), por contribuições às práticas de relações públicas, e o prêmio Comunicador do Ano (Trajetória de Vida), concedido pela FundaCom (Espanha). É coautor dos livros: Communicating Causes: Strategic Public Relations for the Non-profit Sector (Routledge, Reino Unido, 2018); The Handbook of Financial Communication and Investor Relation (Wiley-Blackwell, Nova Jersey, 2018); O que É Comunicação Empresarial (Brasiliense, 1995); e Narrativas Mediáticas e Comunicação – Construção da Memória como Processo de Identidade Organizacional (Coimbra University Press, Portugal, 2018).

  • COMPARTILHAR: