COlabora #3: Mãe – e profissional – em tempo integral
Publicado originalmente no LinkedIn em 6 de maio de 2021
Escrito em parceria com Cristiane de Brito, superintendente de Gestão de Pessoas da Eletrobras
Cenoura, abobrinha… vou adiantar o almoço, pois terei reunião às 10h30min.
– Bom dia, Pedro. Meu filhão acordou bem?
Precisamos fechar uma proposta para o plano anual de patrocínios hoje.
– Não quer pão hoje, meu filho?
Preciso pensar nos valores a serem aportados e nos atributos a serem priorizados nos projetos. Preciso mais ainda de uma xícara de café.
– “Mãe, quero ligar para a vovó”. Não, Alice. Sua aula online já está começando.
Ih, acho que o Pedro está com febre. 38,3°C. Eita! Quase deixei queimar a carne. Precisamos de um projeto mais inovador para atender aos objetivos da empresa. Por que a Alice está chorando? Opa, me veio aqui uma boa ideia para colocar em prática na área, preciso anotar para não esquecer.
– “Mãe, fiz cocô!”
Eu me esqueci do café na máquina… o café já esfriou. 10h25min… socorro! A reunião vai começar… e eu ainda estou descabelada!
Com o avanço das pautas ESG no cenário estratégico das empresas, impulsionado pelo interesse de investidores, consumidores e do público em geral, temos visto ganhar espaço o necessário debate em torno de temas relacionados à diversidade e à inclusão no mundo corporativo.
A presença de mulheres em cargos de liderança é um dos compromissos que vêm sendo assumidos publicamente por empresas comprometidas com a inclusão. No mês em que celebramos as mães e num momento em que entramos no segundo ano de uma rotina de teletrabalho em que os papéis familiares e profissionais se sobrepõem ininterruptamente, cabe aprofundar a reflexão sobre os ambientes corporativos que estamos construindo e seus impactos nos resultados das empresas e nas vidas pessoais de todos os colaboradores e, em especial, das colaboradoras.
Muitas empresas ainda acreditam que a inclusão e o acolhimento da maternidade estão em oferecer benefícios como licença-maternidade estendida e auxílio-creche, ou abrir espaço para berçários e salas de amamentação nas empresas. Trata-se, muito mais do que isso, de compreender as mulheres como seres integrais. Trata-se de fomentar uma cultura que entenda e valorize a maternidade como função social de extrema importância para a construção de um futuro melhor.
Entre os temas em que ainda é necessário avançar está o estigma que assola profissionais em idade fértil, muitas vezes preteridas em processos seletivos de empresas ainda não alinhadas às práticas inclusivas, por empregadores que preferem evitar o encargo de um possível afastamento prolongado do trabalho. É preciso reconhecer, com ações práticas, que a maternidade não é custo e, sim, algo relevante pra uma sociedade sustentável. Que as mulheres podem decidir sobre suas carreiras e sobre sua vida, sem qualquer tipo de preconceito. E que maternidade e carreira podem, e devem, andar juntas.
Cuidar e educar exige um investimento grande e, como numa empresa, é necessário investir, avaliar custos, cortar gastos, fazer reuniões, contratar, gerenciar. As mães podem ter muito a ensinar, pois são desafiadas diariamente na educação de seus filhos. Quando nasce uma mãe, nasce uma nova mulher e uma nova profissional, com novas competências.
O desafio de inclusão está em possibilitar que, mesmo após o fim da licença-maternidade, essas novas profissionais permaneçam empregadas e, mais do que isso, que não desistam das suas carreiras, como opções excludentes, pela falta de rede de apoio. Que as empresas não apenas busquem fomentar o discurso da inclusão, mas sejam de fato parte dessa rede de apoio tão importante e fundamental para o sucesso profissional das mulheres, e, por consequência, da empresa e da sociedade de uma forma geral.
Com advento da pandemia, aqueles porta-retratos dos filhos na mesa do trabalho invadiram as reuniões e deixaram mães e pais, por vezes, constrangidos com suas aparições, mas isso tornou a maternidade e a paternidade mais visíveis, conectando as pessoas à realidade por vezes conhecida, porém, ignorada. Mais do que nunca, empatia, sensibilidade, compreensão, apoio e todas as atitudes que fomentem o acolhimento se tornaram mais do que necessários. Há empresas que acreditam na capacidade de mães que se desdobram e se comprometem com seus trabalhos, ainda que seja se virando em muitas. O que está sendo feito para que essas mulheres não desistam de ocupar seus espaços e queiram mais no ambiente corporativo?
É nesse sentido que Gestão de Pessoas e Comunicação se encontram nesta pauta. Mães são mães em tempo integral. Mas são profissionais também. Entender e refletir isso por meio de ações afirmativas; trazer o tema para a agenda corporativa; orientar as lideranças para que compreendam, respeitem e enderecem as diferentes necessidades de seus times no que tange aos compromissos com seus respectivos núcleos familiares; fomentar a parentalidade consciente por meio de programas, palestras, debates e espaços de troca coletiva; e refletir esses compromissos numa comunicação inclusiva são apenas alguns dos passos necessários para a construção de uma cultura que possibilite a homens e mulheres o exercício de suas plenas potencialidades profissionais, e pessoais também.
Somos melhores em ambientes nos quais podemos estar inteiros. Somos melhores profissionais com o que aprendemos como pais, mães, filhos, irmãs, amigos, vizinhas, colegas de trabalho… Somos melhores em família com o que aprendemos como profissionais. Somos muitos, mas em um só. E se há um propósito capaz de nos conectar às nossas empresas, aos nossos times ou a qualquer grupo que trabalhe coletivamente por algo, é o desejo de sermos melhores. Sem distinção de papéis. Mães, pais, profissionais. Tudo em tempo integral.
A todas as mães, vocês são fortes, admiráveis e únicas.
Esta é uma homenagem a todas as mães. Em especial a Branca Lúcia Petrocelli Bezerra Paes e a Rosemeire de Brito Moreira Costa.
*O texto de abertura é fruto da colaboração de Fabiana Petrocelli Bezerra Buss, outra mãe e profissional em tempo integral, assim como Cristiane.
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