08 de junho de 2020

Cultura, liderança e solidariedade frente a pandemia

Publicado originalmente no LinkedIn, em 1º de junho de 2020.

Reflexões sobre comunicação responsável

Ao enfrentarmos crises passamos por fases: mitigação, preparação, resposta e recuperação, nas quais discutimos em cada ponto de contato as vulnerabilidades (Otto Lerbinger). Sabemos o contexto desafiador que estamos vivendo pelos cuidados sanitários que devemos ter e como garantir o direito à vida. A experiência nos tem demonstrado comportamentos que foram padrões como se fosse um movimento integrado das empresas que foram “obrigadas” a realizarem no curto espaço de tempo, o deslocamento das equipes para trabalho remoto, a reconfiguração das plantas nas atividades consideradas essenciais para garantia da produção, o processo contínuo de informação para equipes de trabalho levando segurança e bem-estar, a redução de viagens e deslocamentos, as reuniões remotas, as pesquisas que colaboraram na tomada de decisão informacional. Observamos também movimentos inovadores, que inspiraram. Esses exemplos demonstram a capacidade das empresas em se reorganizarem e se movimentarem com suas próprias equipes respondendo e inovando em várias frentes. Estamos todos tomando decisões para gerir a crise instalada e certamente as empresas que construírem resiliência serão capazes de sobreviver aos impactos vividos no mundo.

A comunicação responsável, transparente, que leva soluções (Trust Barometer), tornou-se estratégica para que as pessoas possam agir a partir da “voz” da organização. Essa orientação comunicacional, o desenvolvimento de planos de contingência, a presença do líder junto aos seus times, a atitude de ouvir seus funcionários, é fundamental para os times, para o desenvolvimento de uma consciência coletiva e integrada de comportamento, onde o “outro” e não mais somente o “eu” se revela como valor. Levar informação aos familiares de nossos funcionários, cuidarmos daqueles que estão afastados pelo risco, garantirmos a saúde física e mental. Se até agora, ampliamos as relações junto aos clientes, fornecedores, parceiros, governo assim como atitudes solidárias nas comunidades onde atuamos, nos parece que os novos movimentos se darão a partir da intensidade dessa escuta junto a esses públicos para que possamos sair fortalecidos em nossos relacionamentos com stakeholders. É assim que construímos reputação.

Nos parece também que chega o momento de “Reimaginar” (Mckinsey & Company). Caminhamos para um novo momento marcado pelo engajamento, conectividade e ativismo, valorização da transparência e acima de tudo com mais solidariedade e preocupação com o próprio planeta para uma vida sustentável. Cultura é a peça-chave para as empresas se reinventarem. Sermos livres de fronteiras espaciais e temporais. Nessa jornada precisamos fazer pausas para nos reconectarmos, quem sabe criando comitês para imaginarmos o futuro e desenharmos estratégias que nos levem para desafios ainda não vividos nesse mundo complexo, plural, digital e acima de tudo, humano.

Reflexões que compartilho.

Atue nos gaps de informação e transcenda na comunicação

Atitudes e comportamentos são relevantes, presença pró-ativa mitiga riscos e intensifica criatividade para que as conexões sejam nutridas. Mapeie as principais necessidades de informação para construir pontes de significado. Relevância de conteúdo mantém o receptor por perto. Atue com comunicação responsável, curadora da verdade, identificando grandes temas que ao serem tratados revelam o fio condutor da trajetória da empresa. Compartilhar conhecimento de forma presencial ou digital com narrativas que conectam os públicos será vetor acelerador do futuro.

Agilidade e flexibilidade é o resultado de uma força de trabalho altamente engajada. Plataformas internas são mais importantes que canais externos (Gary Grates).

Cuidado com Reputação

Riscos reputacionais impactam. Estamos agindo em várias frentes, assegurando a sustentabilidade da organização. O Plano das Pessoas assumiu prioridade. Com empregados, como estamos preservando vidas e empregos? O que temos feito em relação às suspeitas ou casos COVID-19 confirmados? Como podemos contribuir com o entorno, algo mais a fazer? Sustentabilidade de caixa. Parece que estamos caminhando para além das estruturas formais e padrões de comportamento, cuidados com a saúde e bem-estar físico e mental permanecem. Já estamos observando um olhar mais crítico da sociedade para o comportamento sustentável: que propósito e bem comum estamos promovendo com o trabalho da empresa?

Crises testam culturas organizacionais em seus limites. Viva a Cultura.

Cultura, nosso jeito de ser e fazer, nosso guia, o conjunto de elementos distintivos que lhe dá identidade e personalidade, o núcleo do seu DNA mais autêntico. Essa “cola” ajuda a encontrar os sentidos que solidifica quem somos com a prática da cultura do aprendizado. Informar, comunicar e conectar a partir da prática da consciência coletiva (individualismo perde sentido). Senso coletivo de colaboração e necessidade de proximidade, respeitando o distanciamento social, são percebidos como atitudes relevantes. Gestão humana, empática e responsável. Com a vivência da cultura estaremos vendo em cada atividade a nossa essência, estaremos vendo nossa atitude justificada ao agirmos desta ou daquela maneira e ainda, estaremos nos reconhecendo como grupo.

Transformação: lidere pelo exemplo

Pratique a Liderança Relacional que significa ouvir, dar feedback e, principalmente, reconhecer o que impulsiona e compromete equipes. Fale para mobilizar. Coragem e empatia, são ingredientes de valor. Estimule redes de relacionamento a partir de seu exemplo. Encontre sentidos para cada atitude e celebre pequenas conquistas (o sentido mobiliza a capacidade que o ser humano tem de transformar seus sentimentos). Mostre sua vulnerabilidade e peça ajuda ao time na busca de respostas para esse cenário desafiador. Seja admirado como pessoa, produza soluções práticas viáveis, com adaptabilidade e criatividade. Incentive mudança de mindset para sair da zona de conforto e leve o time a viver a transformação.

Conecte públicos

Conexões dão alma a vida organizacional. Conexão ((faz parte da natureza humana) é o que dá propósito e significado para as pessoas. Aproximar-se dos públicos para ouvir, refletir e aprender, trazendo para discussão as diversas vozes. Coerência em todos os pontos de contato de seu negócio, funcionários são o elo para ampliar as relações.

 

Enfim, vamos manter presença ativa e consistente para engajamento genuíno com os públicos. Negócios na pandemia e pós-pandemia se inserem em contextos de relacionamentos mais amplos para transformar realidades. Faz sentido agirmos pelo nosso propósito, instigando redes de conexão com públicos, construindo no dia-a-dia nossas atitudes para contribuirmos com essa nova sociedade, na qual temos algumas certezas: todas as nossas atitudes terão consequência e não encontraremos mais sintonia se agirmos de forma individual sem olharmos para o coletivo.

 

Os artigos aqui apresentados não necessariamente refletem a opinião da Aberje e seu conteúdo é de exclusiva responsabilidade do autor.

Marlene Marchiori

Palestrante, escritora, mentora em comunicação, cultura e estratégia como práticas organizacionais. Pós-doutorado em comunicação organizacional. Doutora em Ciências da Comunicação. Graduação em Comunicação e Administração de Empresas. Ganhadora do Prêmio Opinião Pública Destaque Profissional Área Rural pelo Conselho Regional Profissionais de Relações Públicas. Professora da Universidade Estadual de Londrina desde 1982. Pesquisadora e Professora Senior do PPGA Administração. Professora de Cursos de Pós-graduação em diferentes instituições acadêmicas e na Aberje. Autora de livros e artigos em diversos periódicos, tendo publicado a Coleção Faces da Cultura e da Comunicação Organizacional com 10 volumes pela Difusão Editora e SENAC RJ. Gestora de comunicação com experiência em organizações por mais de 15 anos.

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