Nossas atitudes – quando os holofotes estão apagados – revelam o líder que realmente somos
O Instagram me lembrou deste dia tão especial na minha carreira corporativa, em 2016: quando o prêmio Troféu Mulher Imprensa me colocou ao lado de quem tanto me inspirou quando eu apresentava jornal na EPTV Campinas (afiliada da Rede Globo), no início da minha trajetória profissional.
Na data desta foto já estávamos muito diferentes – não só fisicamente como representando posições distintas no jornalismo (Sandra Annenberg sendo premiada como apresentadora de TV e eu, como profissional de Comunicação Empresarial). Mas houve um tempo em que as pessoas me confundiam com ela na rua (estou falando de 25 anos atrás, nos meus tempos de cabelo “Joãozinho” e de âncora de jornal. Colegas chegaram a fazer uma colagem de fotos nos comparando). E aí me lembrei do quanto Sandra foi importante na minha carreira, e o quanto seu jeito de ser e de agir – não só em frente às câmeras – fizeram dela uma importante referência para mim. Ela nunca soube disso, até nos encontrarmos nesse palco de comemoração e de reconhecimento, quando por alguns instantes não resisti e me comportei não só como colega, mas também como fã.
E a reflexão que faço hoje, olhando para essas fotos e voltando no dia daquela premiação, é sobre o quanto é bom a gente poder nos espelhar em outros profissionais durante nossa carreira; o quanto podemos ser exemplo para os outros – e nem sempre ficamos sabendo – e o quanto os outros estão o tempo todo nos avaliando, e muitas vezes nos aprovando ou não, como exemplos a serem seguidos. E o que não nos damos conta, às vezes, é que esta aprovação não se dá somente pela competência técnica, mas pelos pequenos gestos que fazemos – ou deixamos de fazer. São nossas atitudes no cotidiano que refletem nossos valores mais verdadeiros e profundos, capazes de construir – ou destruir – nossa imagem perante os públicos com os quais nos relacionamos. Atitudes que nos parecem banais e despretensiosas, mas que podem ser decisivas inclusive na hora de se fechar um negócio.
Foi o que ouvi dia desses de Jocelyn Cortez Young, fundadora e CEO do Grupo Minerva Capital. Ela revelou o seguinte: “antes de investir ou não em uma companhia, gosto de jantar na casa do dono ou do CEO da empresa para ver como ele fala com a esposa; ou perceber como ele trata o garçom no restaurante, pois a forma como ele se relaciona com as pessoas no ambiente menos formal vai me revelar como ele toma decisões na vida – e no trabalho. E este é o ingrediente final na minha tomada de decisão”.
Achei sensacional. E essa fala me fez lembrar de tantos líderes com quem tive – e tenho – o privilégio de conviver, cujas características reconheço também na Sandra Annenberg. Eu sempre a admirei não só pela competência técnica, mas pelo quanto que ela é genuína e verdadeira, fora dos holofotes. O quanto é cuidadosa com as pessoas, quando está na fila de um restaurante ou de um teatro; que chora de verdade, ao vivo na bancada, diante de uma notícia que emociona. Tranquila, sem melindres, nem arrogância. Que não tem o menor problema em admitir quando erra ou quando não sabe. É séria, sem ser sisuda. Gente como a gente. E daquele jeito que é só dela: engraçada, divertida, que fala com os olhos e com as mãos. Uma pessoa tão do bem, de sorriso generoso e acolhedor. Pequenina, mas gigante.
É nessa liderança que eu acredito. O líder que transpira verdade por onde passa. Que constrói confiança; que é coerente, ao falar e ao agir; que gera empatia, orgulho, e que transborda emoção; que olha no olho e se conecta com o outro, sem distinção de cargo ou posição. Que tem escuta ativa e investe tempo para ouvir, cuidar e cultivar relações sempre; que é consistente, de janeiro a janeiro; que é real, e não apenas um personagem de faz de conta. Que busca ser o melhor dele mesmo. Um líder que realmente acredita nas pessoas, que dá voz ao time e faz com que sua gente se sinta protagonista da mesma história. E que, em primeiríssimo lugar, trata bem a todos, sejam eles garçons, esposas, maridos ou investidores. E trata bem especialmente quando não tem ninguém vendo. E as câmeras – e os holofotes – estão todos apagados.
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